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Tudo se altera, tudo é impermanente

Vou passar a publicar os textos num espaço de forma mais organizada e desenvolvida: 

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Este lugar permanecerá aqui, como um jardim em silêncio — aberto para quem queira revisitar o que já foi escrito, mas, por agora, pausado e contemplativo.

Se algo que leste aqui te tocou de alguma forma, convido-te a seguir-me para o novo espaço.

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O Medo do Vazio Move o Mundo

"Para a frente é que é o caminho" — dizem os mesmos que, outrora, acreditaram que a Terra era plana.
São os mesmos que hoje acreditam na evolução: os que antes temiam cair no abismo, agora correm em direção ao vazio, crendo que caminham rumo ao infinito — num aperfeiçoamento absoluto, inconsequente, multidirecional.

Convencidos de que caminham para algo.
Como se realmente se pudesse passar de um estágio inferior para um superior.
Como se a existência tivesse direções para chegar a um suposto ápice de um inalcançável supremo.
Imagine-se viver rodeado de seres assim...
Todo o movimento no universo é um compromisso, uma troca:
o que de um lado se esvai, para outro flui.

Não existe ascensão nem degradação — apenas alteração, apenas dança energética.
Entre disposições, nenhuma é superior ou inferior; essas ilusões pertencem apenas ao campo individual.
Mas são, ironicamente, estes delírios que alimentam o movimento do mundo.

É o medo do nada que empurra os corpos a fingir que vão para algum lado.
O medo do vazio é o motor do mundo.

E a lucidez, a sua morte.
 
— Tiago Barriga

Destruição de Ilusões que movem o mundo

* Ilustração criada com base em conceito original do autor Tiago Barriga, gerada com auxílio de IA (ChatGPT/OpenAI)


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Complicado, Demasiado Complicado

O que é mais sinal de inteligência? Conseguir fazer algo simples de forma complicada — ou conseguir fazer algo complicado de forma simples?

A resposta parece óbvia. A inteligência autêntica simplifica, clarifica, descomplica. Como dizia Einstein: "Se não consegues explicar algo de forma simples, é porque não o entendes bem o suficiente."

Mas o ser humano insiste no contrário: confunde complexidade com genialidade, engenho técnico com sabedoria, e acumulação de camadas com evolução.

Simplificar sem perder profundidade exige uma compreensão que raramente encontramos. Já complicar o simples é fácil — basta falta de clareza, vaidade, medo do vazio, ou o velho hábito de ocupar-se para não ter de pensar.

E não estamos a falar de refletir profundamente sobre o mundo — isso é nobre. Estamos a falar de substituir o óbvio por labirintos, de transformar a funcionalidade em espetáculo, de criar dependência onde antes havia autonomia.

Basta afastar o olhar e observar o ser humano com frieza. A sua compulsão em complicar tudo parece menos um traço de inteligência e mais um distúrbio — uma inquietação crónica travestida de progresso. Ilude-se com a ideia de que está a evoluir, como se houvesse um aperfeiçoamento eterno em todas as direções. Mas essa crença é apenas mais uma fuga. Ingenuidade e desorientação tornadas doutrina.

É legítimo, então, perguntar: será mesmo o ser humano o ser mais inteligente do planeta? Quando tudo o que faz é sofisticar artificialmente o que já funcionava com naturalidade?

Vejamos: comunicar transformou-se num exercício de atravessar interfaces, criaram-se notificações, algoritmos e filtros — onde antes bastava falar. As casas tornaram-se "smart", mas mais frágeis. As relações humanas ficaram instantâneas, mas vazias. Notificações digitais para marcar tarefas que antes viviam apenas na memória ou no instinto. E os outros animais, sem entenderem nada de tecnologia, continuam a viver — e não mostram sinais de desfrutar menos da existência. Pelo contrário: são menos ansiosos, menos depressivos, mais conectados ao momento.

Enquanto isso, o ser humano afunda-se num mal-estar crescente. É o único animal que precisa de inventar terapias para suportar a própria mente — que cria artefactos para tentar recuperar o que perdeu ao longo do seu dito "progresso".

Agora cria inteligência artificial, como se estivesse a gerar uma nova forma de vida — esquecendo que todos os seres sempre souberam criar vida de forma orgânica, através da procriação. Mas o humano, talvez por se ter afastado tanto da vida, precisa agora de simular a criação… como quem fabrica um espelho digital para ver se ainda se reconhece.

A complexidade está a tornar tudo mais artificial — inclusive a própria inteligência humana. Pois o dilema eterno aqui se revela: como matar um assassino sem nos tornarmos nele? Como criar o artificial sem nos tornarmos artificiais? Tudo no universo se molda ao seu ambiente; quem mexe na lama, acaba enlameado.

Sim, é o animal com maior capacidade de criar estruturas complexas. Mas a inteligência verdadeira não é criar mais: é saber o que não precisa de ser criado. É saber viver bem. E nisso, talvez, o ser humano esteja a falhar redondamente.

Mas quem sabe? Talvez a verdadeira inteligência seja precisamente essa: complicar tudo até à extinção, só para provar que se podia.

- Tiago Barriga
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Aversão à Inatividade: O Maior Distúrbio Humano

A inquietação crónica talvez seja o maior sintoma do maior distúrbio humano: a incapacidade de estar parado.
Por um lado, há o excesso de positividade, que não passa de uma forma de alienação. A ingenuidade de acreditar que aquilo que não se conhece é sempre melhor do que aquilo que se conhece.
A antiguidade só se valoriza onde não foi adquirida, onde nada se sabe sobre ela. Assim que é familiar, perde o encanto. Esta mentalidade é fruto da mesma ingenuidade que nos leva a glorificar a ação pelo simples facto de agir. Uma fobia à inação, uma necessidade de preencher o vazio com movimento, mesmo que esse movimento seja inútil.

A crença de que fazer algo é sempre melhor do que não fazer nada não é apenas uma fuga, mas também uma incapacidade de aceitação e apreciação da própria existência. É uma recusa em encarar a realidade. No mercado comercial, esta lógica transforma-se em produtividade tóxica. É preciso apresentar números, mostrar quantos clientes foram adquiridos, mesmo que para isso se ignore quantos foram perdidos, o cliente novo é sempre melhor que o antigo. A mudança constante é vista como progresso, mas não passa de uma fuga desesperada ao reconhecimento de que, muitas vezes, o melhor seria simplesmente parar.
O mesmo se reflete na valorização profissional. Funcionários são em média mais valorizados quando mudam de empresa do que quando permanecem. Mais uma vez, desvaloriza-se o conhecido e idolatra-se o desconhecido, como se a galinha do vizinho fosse sempre melhor alimentada.
Mas, no fundo, esta inquietação não passa de uma estratégia para esconder a ansiedade. A ação constante serve para evitar o confronto connosco mesmos. E, numa escala maior, a sociedade faz o mesmo. Evita olhar-se a si mesma e, para isso, disfarça-se de progresso. Glorifica o seu próprio distúrbio e protege-se na ignorância coletiva. Se todos os loucos concordam que a loucura é normal, então ninguém é louco. E esse é o maior risco de qualquer grupo: cair na ignorância convencida e na idiotice, sem sequer se dar conta.
O delírio (e crença) daquilo a que chamamos evolução nasce também desta mesma raiz.

- Tiago Barriga
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Consciência x Loucura


Algo parece querer comunicar-se comigo através destas cortinas, não a comunicar propriamente, mas mais a vida do outro lado sempre querer algo de mim, sempre a insistir em que não seja eu mesmo e a prejudicar-me por tal, sempre a querer sugar-me alma!

Se esse exterior está sempre a querer roubar algo, e se daquilo que temos noção, nos podemos defender, significa então também em contra partida que mais probabilidade há dessa noção nos poder incomodar, em quantidade e intensidade. Por outro lado faz-me levantar a premissa que estaremos a ser ainda mais abusados por vias às quais não façamos ideia, pois os nossos sentidos nem cheguem lá.
Estamos habituados a estes sentidos, como se fossem tudo. Mas assim como existem animais sem todos estes sentidos, também seria no mínimo absurdo assumir que os nossos sentidos abranjam todo o espectro da existência. Embora não consigamos conceber minimamente quais seriam outros sentidos diferentes dos que conhecemos, isso se deve exatamente e apenas por não termos, até ao momento, nenhum vislumbre de outros.

Então, da mesma forma que partes de um corpo que já estejam dormentes são mais propícias a alojar parasitas e fungos, também nós, relativamente às partes da nossa existência das quais nada sabemos, por estarmos privados de sentidos que as captem, estaremos provavelmente a ser abusados e explorados por outros seres que tenham tal noção.
Se não tivéssemos, por exemplo, visão nem sentíssemos o corpo, poderíamos muito bem estar a ser devorados por um ser sem que isso nos incomodasse minimamente.
Além disso, fica claro que quanto mais noção temos, mais coisas existem para processarmos e por sua vez para nos incomodar. Existe assim uma relação íntima entre a loucura e a noção. Para cada porção de noção, é necessário uma outra porção de 'espaço' para que a loucura não acompanhe ao mesmo ritmo.
Por este motivo, 'aguentar', ou 'suportar mais', algo que esta sociedade fantasiosamente glorifica, tende por vezes a significar meramente maior ignorância, pois para aquele de que nada tem noção, tudo está bem, pois nada conhece que pode-se achar estar mal.


– Tiago Barriga
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Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Crenças

O verdadeiramente relevante nos tempos atuais não reside apenas no acúmulo de informações, estruturas, métodos, conceitos ou mecanismos, mas sim em tudo o que conseguimos fazer interiormente ou exteriormente com tais informações.

Independentemente da experiência ou do quão especialista é, ninguém tem a autoridade de alterar a validade de um raciocínio. Um raciocínio inválido permanecerá inválido, independentemente de quem o faça, e vice-versa.

Recebemos informações do mundo exterior através dos nossos sentidos, que oferecem apenas uma representação aproximada das "coisas em si". À medida que ganhamos experiência, começamos a reconhecer padrões nas informações, o que chamamos de "conhecimento". Toda a nossa experiência, assim como a ciência, é baseada nisso. Embora seja útil, é importante entender que o nosso conhecimento é apenas uma aproximação, dependente dos sentidos que temos e da amostragem que recebemos. Este conhecimento é partilhado entre diferentes indivíduos, formando uma espécie de conhecimento coletivo numa memória global estruturada.

Por meio desse processo, seja por experiência pessoal ou coletiva, o conhecimento é formado. Este conhecimento está a tornar-se cada vez mais acessível e, ao mesmo tempo, está sendo gradualmente substituído por tecnologias automáticas.

Acima de todo esse processo de aquisição de conhecimento, estão os condimentos que diferenciam o ser humano do autômato: noção, criatividade, entendimento, perceção, raciocínio, crítica, lógica, assim como tudo o que seja a priori ou que não possa ser simplesmente memorizado ou armazenado. São esses elementos, combinados, que fazem toda a diferença, não apenas o mero conhecimento.

Além disso, há algo que está sendo cada vez mais esquecido: a única experiência da qual temos um conhecimento verdadeiro é aquela que vem de dentro de nós mesmos, e mesmo assim, devemos ter alguma cautela. O conhecimento coletivo está em parte distorcido, pois sempre que há uma troca de informações de um indivíduo para outro, alguma distorção ocorre. Além disso, é necessário ter a crença de que os métodos científicos foram aplicados corretamente em qualquer pesquisa, o que cada indivíduo é incapaz de verificar em todos os aspetos do conhecimento humano. Isso significa que aquilo a que chamamos de conhecimento científico é, infelizmente, apenas uma crença - uma crença de que cada ser humano envolvido em uma determinada etapa de uma investigação tenha aplicado métodos científicos de maneira adequada.

Se olhar-mos à construção de tal conhecimento, percebemos que os seus alicerces são então crenças, o que faz da ciência a nova religião onde os especialistas são os novos sacerdotes. 

Independentemente do paradeiro das crenças, algo parece eterno:
Aquele que consegue sentir e pensar por si, está destinado a ser descreditado e visto como rebelde ou louco.

– Tiago Barriga
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A Insatisfação dos Cadáveres Vivos

Uns ansiosos com o futuro outros deprimidos com o passado
Infelizes por estarem sozinhos enquanto outros por estarem acompanhados
Stressados por não terem emprego, e stressados por terem
Mais novos querem ser mais velhos e os mais velhos mais novos querem
Uns incomodados por ninguém lhes ligar, enquanto outros fartos de terceiros opinar
Uns chateados com a relação e outros por não a terem à mão
Por saberem pouco ou por saberem muito
Uns por terem de estudar, outros por não poderem
Uns por não poderem votar outros por não quererem
Alguns por não conseguirem outros por não saberem sequer
Uns por finalmente entenderem, outros por quererem esquecer
Por nunca encontrarem o tesouro e por já o terem feito
Por tudo ou por nada terem, por diferentes ou por iguais serem
Por terem o que não querem ou por não quererem o que têm
Do arrependimento de terem deixado de fazer ao de o terem feito
Tudo ingenuamente buscam, acreditando noutro lado estar a explicação
Algures no inalcançável futuro estará a solução, para um passado sem perdão
No futuro, aí sim! Aiai… essa sensação! Aqui… aqui é que não!
Como uma fuga de tudo terem ou quererem, mas ver em si é que não…
Atiram-se à sua exterior reflexão batendo assim com a cara no chão…
Onde tudo é apenas uma ilusão, não deste pequeno momento mas sim de sua visão
Quando na verdade o que todos querem, está antes no interior por resolverem

– Tiago Barriga

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Da Meditação à Reflexão

Já pensei, e repensei, tudo o que tinha e que não tinha a pensar
Já me distrai com tudo o que tinha e não tinha a distrair
Já me observei e larguei o que podia

Já li o que havia e o que dentro sentia
Faça o que fizer ou o que deixe de fazer

Da observação à desconstrução
Da imparcialidade à parcialidade
Com ou sem noção..
Que mais outra combinação?

Já ouvi e já falei, já ponderei, analisei, desconstrui, critiquei, desaprendi e entendi
Também já deixei tudo isso de lado e depois voltei
Mas não há, por mais fundo que se vá
nada além do nada por baixo de tudo

Do especialista ao especial artista
Do competidor ao do amor
O do bem e o do mal,
O da evolução ou o de outras ingênuas conveniências
Pomposos argumentos cheios de floreados, bem formulados e melhor apoiados
Todos os alienados falam em significados

Quem não prefere uma doce ilusão senão aquele que já não tem outra opção?!
Afinal de contas aprendêramos com a existência, toda a sua dança é uma negação
E só a iludir se pode manter iludida

Num mundo de pouca perceção
Não há incremento de noção sem boa dose de desilusão

O discernimento é o preço dele próprio
-
Quanto ao texto, assim como um espelho
Quando o falso alienado positivamente, é exposto ao neutro, é lhe causada uma negativa sensação, e vice-versa.
Pois a desilusão é um processo apenas possível com prévia ilusão.
Oh, mas quanto de realidade pode ser suportada

— Texto de Tiago Barriga
— Quadro de Paul Merwart (1882)


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Artificial, Demasiado Artificial

Há aqueles que tudo sabem e aqueles que entendem que não há nada para saber, e sempre haverá.
Ah! sim.. O que é mesmo isso do 'saber'? Não existe isso do saber, existe?! pelo menos não no sentido em que empregamos os termos. Saber significa meramente ter padrões e conceitos memorizados que aparentam coincidir(ainda que de forma parcial) com as "coisas em si", corriqueiramente chamada de realidade.
Há aqueles que acreditam saber e há os que têm noção daquilo que não sabem, obviamente que quem tem a certeza de saber algo, está automaticamente fechado à possibilidade de haver algo que não saiba, e há sempre, ou não há?!.

Para começar, o saber nunca se pode traduzir no 'real', pode referir-se a algo 'real' mas só por aproximação, nunca o é, pois algo que se sabe é apenas algo que está na memória da mente, baseados nos fenômenos capturados através dos sentidos, enquanto que a realidade que existe fora da mente é necessariamente desconhecido fora da limitação dos sentidos, além disso a memória é algo que tenta estar fixo e por mais atualizações, nunca consegue acompanhar em tempo real os fenómenos que se referem à realidade, estando esta em constante movimento. Entendemos assim que o saber se trata de memória organizada (ou padronizada) de certa forma, por conveniência que aparenta coincidir com as ‘coisas em si’, mas existem infindáveis formas 'corretas' de organizar a mesma informação, de ligar os pontos, tal como se observa num mapa de uma cidade, nas veias do corpo humano, na comunicação do neurónios, ou nos planetas, ou seja, existem várias formas de nos tentarmos referir a uma mesma coisa, mas que dela nada podemos conhecer além do que nos é possível capturar dos sentidos. Em suma, o saber pode servir-nos apenas por conveniência como forma de estruturar o que é palpável e como forma de nos comunicarmos(visto que os sentidos se assemelham)

Então todas as características do saber, sendo referentes à memória, podem - e são - características em que o humano não ganha à máquina, não pode, a não ser que se torne numa.

Vejamos, capturamos dados do exterior através dos sentidos, processamos a informação, memorizamos a em forma de conceitos e executamos funções(agimos) consoante os padrões que foram pré-programados(educação). No que toca às características do 'saber' os autómatas são rei, e cada vez mais o serão, trata-se da essência da coisa, então, o saber tem cada vez menos relevância e valor, ao contrário de tudo o que não provém da memória, e por tal entenda-se consciência, entendimento, raciocínio, pensamento crítico, criatividade, ou seja, tudo o que não vem diretamente da experiência, dos sentidos, mas antes aquilo que conseguimos fazer com tal informação - inteligência.

Há uma clara tendência para que quem tudo sabe, nada entende e quem muito entende, pouco admite saber, pois o entender está relacionado com a noção e quanto mais noção se tem daquilo que não se sabe mais se entende.

No entanto - e não por coincidência, pois tudo oscila, e tudo é uma constante troca equivalente - o preço a que o humano está a pagar para por criar autómatos cada vez mais 'humanos', é obviamente o humano tornar-se cada vez mais autómato, o esforço que este está a fazer, está a transformá-lo no outro, pois nada deixa totalmente e indefinivelmente de existir, apenas troca de forma, podemos romantizar a física e dizer que a energia que de um lado sai, para o outro vai. Quanto mais inteligência artificial o robô alcançar, mais a inteligência humana se tornará.. artificial. Globalmente falando.
Assim, como sempre aconteceu noutras áreas, tal padrão de troca de pólos, parece inevitável, pois ambos são o mesmo e é isso, que faz tudo mexer, essa ilusão dos opostos.
Mas..Uma vez que se tenha alguma noção do que não se sabe, deixa de ser possível voltar à ingénua crença de que se sabe, é um caminho sem regresso, por assim dizer, obviamente. Pode-se até fingir saber, e participar no jogo, mas no fundo entende-se perfeitamente que não sabe se sabe, e em alguns casos, entende-se que nem tão pouco se sabe se se sabe ou não alguma coisa

Como Einstein terá dito, ‘A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original’ e isso, claro está, também tem um preço a pagar, quem muito entende, poucos o entendem, quem pouco entende, todos o entendem, ninguém melhor para convencer um grupo de idiotas, que um idiota convicto.

No entanto, algo parece-me certo, se apenas se sabe muito, então trata-se de uma inteligência muito artificial, não me parece ser de todo da habilidade e essência do autómato, o 'entender', esse entender a que me refiro.

O que me faz lembrar de algo que li algures num livro conhecido

"Doze vozes enfurecidas gritavam e todas pareciam iguais. Agora não restavam dúvidas sobre o que tinha acontecido aos autómatos. As criaturas olhavam da janela, passando de autómatos para humanos e de humanos para autómatos, e olhavam de novo para autómatos e para humanos mas já não conseguiam distinguir uns dos outros"

Ou não era bem assim?


— Tiago Barriga
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Era uma vez um gato 'XXI' - O Gato do Bem

Era uma vez um gato, o gato era muito bondoso, sonhava com o bem do universo e vivia dedicado em ajudar os outros, a todo o custo.
Ele era muito humilde, não ajudava os outros para se sentir bem, pelo contrário, forçava-se por se sentir mal sempre que ajudava, para que assim suas ações não tivessem foco em si mesmo ou na sua própria satisfação, mas antes no bem nos outros.
Além disso, este gato altruísta tinha muita paciência! sempre que os outros gatos não reconheciam a luz por detrás de suas ações, ele nunca lhes mencionava que tal se devia ao facto de serem gatos de bondade inferior, para que estes não se sentissem mal.
A gato era tão dedicado ao bem que acordava os gatos que dormiam demais, impossibilitando-os de caírem na maldita tentação da preguiça, sabendo ele quem são os gatos mais mandriões, ficava de olho neles e assim que se deixavam dormir, acordava-os com um valente patada, mas o honroso gato do bem não se ficava por aí, há pois não!
Ele fazia o mesmo de modo a evitar que outros gatos comessem demais e caíssem no desleixo da gula, até mesmo interrompia outras atividades para evitar a luxúria! e toda esta monitorização ele fazia voluntariamente! Imagine-se.

Mas não basta ser bondoso, o universo não se salva sozinho, é necessário também combater o mal ativamente, o gato voluntariou-se para criar multas a serem aplicadas a todos os gatos que tivessem atitudes de risco para com eles mesmos, como forma a discipliná-los, tudo para bem deles claro
Ele ensinava as suas preces de ética aos outros gatos, mesmo que eles não quisessem saber, ele obrigava-os, pois apenas ele era bondoso o suficiente para saber a boa ética.
Por ser um organismo repleto de bem, o gato, apenas se alimentava de seres do mal, tudo o que matava eram seres das trevas, aqueles malditos peixes! Malcheirosos e das profundezas, de onde o mal vem! e ainda assim matava-os com bastante carinho.. estando ele bem ciente de que as suas vidas eram para um bem maior, não por sentir fome ou por qualquer tipo de apetite mas sim como uma forma de converter matéria do mal em do bem.
Obviamente que não comia legumes ou vegetais pois esses não eram organismos do mal, não faziam mal a ninguém.
Certo dia o gato morreu, deixando para trás um caminho cheio de boas intenções.

— Tiago Barriga
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