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Artificial, Demasiado Artificial

Há aqueles que tudo sabem e aqueles que entendem que não há nada para saber, e sempre haverá.
Ah! sim.. O que é mesmo isso do 'saber'? Não existe isso do saber, existe?! pelo menos não no sentido em que empregamos os termos. Saber significa meramente ter padrões e conceitos memorizados que aparentam coincidir(ainda que de forma parcial) com as "coisas em si", corriqueiramente chamada de realidade.
Há aqueles que acreditam saber e há os que têm noção daquilo que não sabem, obviamente que quem tem a certeza de saber algo, está automaticamente fechado à possibilidade de haver algo que não saiba, e há sempre, ou não há?!.

Para começar, o saber nunca se pode traduzir no 'real', pode referir-se a algo 'real' mas só por aproximação, nunca o é, pois algo que se sabe é apenas algo que está na memória da mente, baseados nos fenômenos capturados através dos sentidos, enquanto que a realidade que existe fora da mente é necessariamente desconhecido fora da limitação dos sentidos, além disso a memória é algo que tenta estar fixo e por mais atualizações, nunca consegue acompanhar em tempo real os fenómenos que se referem à realidade, estando esta em constante movimento. Entendemos assim que o saber se trata de memória organizada (ou padronizada) de certa forma, por conveniência que aparenta coincidir com as ‘coisas em si’, mas existem infindáveis formas 'corretas' de organizar a mesma informação, de ligar os pontos, tal como se observa num mapa de uma cidade, nas veias do corpo humano, na comunicação do neurónios, ou nos planetas, ou seja, existem várias formas de nos tentarmos referir a uma mesma coisa, mas que dela nada podemos conhecer além do que nos é possível capturar dos sentidos. Em suma, o saber pode servir-nos apenas por conveniência como forma de estruturar o que é palpável e como forma de nos comunicarmos(visto que os sentidos se assemelham)

Então todas as características do saber, sendo referentes à memória, podem - e são - características em que o humano não ganha à máquina, não pode, a não ser que se torne numa.

Vejamos, capturamos dados do exterior através dos sentidos, processamos a informação, memorizamos a em forma de conceitos e executamos funções(agimos) consoante os padrões que foram pré-programados(educação). No que toca às características do 'saber' os autómatas são rei, e cada vez mais o serão, trata-se da essência da coisa, então, o saber tem cada vez menos relevância e valor, ao contrário de tudo o que não provém da memória, e por tal entenda-se consciência, entendimento, raciocínio, pensamento crítico, criatividade, ou seja, tudo o que não vem diretamente da experiência, dos sentidos, mas antes aquilo que conseguimos fazer com tal informação - inteligência.

Há uma clara tendência para que quem tudo sabe, nada entende e quem muito entende, pouco admite saber, pois o entender está relacionado com a noção e quanto mais noção se tem daquilo que não se sabe mais se entende.

No entanto - e não por coincidência, pois tudo oscila, e tudo é uma constante troca equivalente - o preço a que o humano está a pagar para por criar autómatos cada vez mais 'humanos', é obviamente o humano tornar-se cada vez mais autómato, o esforço que este está a fazer, está a transformá-lo no outro, pois nada deixa totalmente e indefinivelmente de existir, apenas troca de forma, podemos romantizar a física e dizer que a energia que de um lado sai, para o outro vai. Quanto mais inteligência artificial o robô alcançar, mais a inteligência humana se tornará.. artificial. Globalmente falando.
Assim, como sempre aconteceu noutras áreas, tal padrão de troca de pólos, parece inevitável, pois ambos são o mesmo e é isso, que faz tudo mexer, essa ilusão dos opostos.
Mas..Uma vez que se tenha alguma noção do que não se sabe, deixa de ser possível voltar à ingénua crença de que se sabe, é um caminho sem regresso, por assim dizer, obviamente. Pode-se até fingir saber, e participar no jogo, mas no fundo entende-se perfeitamente que não sabe se sabe, e em alguns casos, entende-se que nem tão pouco se sabe se se sabe ou não alguma coisa

Como Einstein terá dito, ‘A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original’ e isso, claro está, também tem um preço a pagar, quem muito entende, poucos o entendem, quem pouco entende, todos o entendem, ninguém melhor para convencer um grupo de idiotas, que um idiota convicto.

No entanto, algo parece-me certo, se apenas se sabe muito, então trata-se de uma inteligência muito artificial, não me parece ser de todo da habilidade e essência do autómato, o 'entender', esse entender a que me refiro.

O que me faz lembrar de algo que li algures num livro conhecido

"Doze vozes enfurecidas gritavam e todas pareciam iguais. Agora não restavam dúvidas sobre o que tinha acontecido aos autómatos. As criaturas olhavam da janela, passando de autómatos para humanos e de humanos para autómatos, e olhavam de novo para autómatos e para humanos mas já não conseguiam distinguir uns dos outros"

Ou não era bem assim?


— Tiago Barriga
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