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Para Quem Não Tem Olfato, Nada lhe Cheira Mal

Aquele que não vê, não se pode enjoar com alguma imagem, aquele sem audição, nenhum apito agudo lhe pode fazer impressão. O mesmo acontece com a noção, quem não a tem, nada lhe incomoda, quem não se apercebe de nada, nada lhe pode fazer incomodar, nem alertar. Como nos poderia incomodar uma aranha no canto do quarto se estivermos às escuras? podemos "aprender" a não nos incomodar caso a vejamos, mas sem noção dela essa necessidade nem sequer surge. No entanto parece-me óbvia a importância da noção.

Quanto mais consciência; percepção; entendimento mais se tem para processar, mais se está vivo, e o preço a pagar por percecionar mais é efetivamente percecionar mais.. mais coisas agradáveis e mais desagradáveis, essa intensidade cria saudavelmente mais necessidade de neutralidade e desapego, pois para processar mais é preciso mais espaço, quanto mais inteligência, criatividade ou sensibilidade – no sentido de percepção sensorial – mais espaço é necessário! espaço insuficiente é apenas loucura.

Obviamente, numa sociedade inconsciente todos suportam aquilo de que tem nenhuma ou pouca noção, não por serem resistentes mas por estarem dormentes, e refira-se de passagem quão conveniente que pode ser não se ter noção, tanto o é que a sua ausência pode transformar até mesmo a feia hipocrisia numa genuína e bela ingenuidade.

Então, é de esperar que nem todos se possam dar ao luxo de fazer porcaria, ou de viver ao redor desta tanto tempo quanto quem não lhe rapara.

Entenda-se agora a necessidade de que na eventualidade de em algum momento existir quem tudo tivesse noção, se quisesse eventualmente livrar desse mal e a única solução seria dividir-se por ai infinitamente em fragmentos de perceção, até, em fim, que eventualmente se fosse aos poucos reconhecendo aqui e ali novamente.

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